terça-feira, 29 de outubro de 2013

menos que um: trecho dos Amores de Cummings

se eu acredito
em morte esteja
certa
que é

porque você me amou,

[nude with pink drapery, óleo sobre cartão, Cummings pintando Marion Morehouse, sua última esposa, embora o poema provavelmente seja pra Elaine Orr, sua primeira]

if i believe
in death be sure
of this
it is

because you have loved me,

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

menos que um: E.E.Cummings e minha oração pra fechar semana

        MINHA ORAÇÃO

    Deus, fazei de mim o poeta da simplicidade,
    Força,e clareza.    Ajudai-me a viver
Sempre mais por sempre mais altos padrões.    Ensinai-me a
    Tirar da frente a grande pedra,simples,feita porta
    Firme,que se fez à hora morta,
E encher as brechas todas com os mais finos cascalhos, com a argila
    Da aliteração,metáfora,rima.    Dai
    Força para ver e fazer ver erro em tristeza,em felicidade.
Fazei de mim um poeta verdadeiro,sempre justo ao sussurrar de meu
        Chamado,
    Tateando pela noite mais escura
    Atrás da clara luz,sua brancura
Erguido firmemente e resoluto no Pilar do
        Absoluto,
    Trabalhando com paixão,com alma e com certeza,
Escrevendo meu mais alto Ideal no que quer que eu escreva,
    Pra sempre honesta,suave,honrada,e alegremente,
        Nunca temente.

brown landscape with three trees, óleo sobre tela do poeta


MY PRAYER

    God make me the poet of simplicity,
    Force,and clearness. Help me to live
Ever up to ever higher standards.    Teach me to lay
    A strong,simple,big-rocked wall
    Firmly,the first of all,
And to fill in the fissures with the finer stones and clay
    Of alliteration,simile,metaphor.    Give
    Power to point out error in sorrow and in felicity.
Make me a truthful poet,ever true to the voice of my
        Call,
    Groping about in the blackest night
    For ever clearer,dearer light,
Sturdily standing firm and undismayed on a Pillar of
        Right,
    Working with heart,and soul,and a willing might,
Writing my highest Ideal large in whatsoever I write,
    Truthfully,loftily,chivalrously,and cheerfully ever,
        Fearfully ,never.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

menos que um: introdução dE.E.Cummings pros New Poems

Traduzi um trechinho da introdução que Cummings faz a um livro seu. [Revisado brevemente em 14/10/16, 122 anos do poeta]. Pois bem, cá está.

Os poemas a seguir são para vocês e para mim e não para o comumdasgentes
-não há razão para fingirmos que o comumdasgentes é semelhante a nós. O comumdasgentes tem menos em comum conosco do que a raizquadradademenosum. Vocês e eu somos seres humanos;o comumdasgentes é esnobe. Considere, por exemplo, o nascimento. O que o nascimento significa para o comumdasgentes? Catástrofe semsolução.

[...] Se o comumdasgentes nascesse duas vezes, improvavelmente chamaria isso de morte
- vocês e eu não somos esnobes. Nunca nasceremos o suficiente. Somos seres humanos;para os quais nascer é um supremo mistério benvindo,o mistério do crescimento:mistério que ocorre só e sempre que temos fé na gente. Vocês e eu vestimos a arriscada liberdade do destino e ela nos cai como uma luva. Vida,para nós eternos,é agora;e  o agora está muito mais ocupado em ser maior do que tudo para parecer com algo específico,inclusive catástrofe.

bearded man in small hat - pintura do poeta também pintor, como se vê

The poems to come are for you and for me and are not for mostpeople
—it's no use trying to pretend that mostpeople and ourselves are alike. Mostpeople have less in common with ourselves than the squarerootofminusone. You and I are human beings;mostpeople are snobs. Take the matter of being born. What does being born mean to mostpeople? Catastrophe unmitigated.

[...] If mostpeople were to be born twice they'd improbably call it dying
— you and I are not snobs. We can never be born enough. We are human beings;for whom birth is a supremely welcome mystery,the mystery of growing:the mystery which happens only and whenever we are faithful to ourselves. You and I wear the dangerous looseness of doom and find it becoming. Life,for eternal us,is now;and now is much too busy being a little more than everything to seem anything,catastrophic included.