sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

aos Paramitas: perfeições masculinas, perfeições femininas

No budismo, paramitas (sânscrito: pāramitā) são perfeições espirituais, virtudes transcendentes, completude. Diz-se que há duas origens etimológicas: a primeira seria essa relação com perfeições e virtudes, enquanto a segunda, mais imaginativa, indicaria o movimento de transcendência, como segue:

A more creative yet widely reported etymology divides pāramitā into pāra and mita, with pāra meaning "beyond," "the further bank, shore or boundary,” and mita, meaning “that which has arrived,” or ita meaning “that which goes.” Pāramitā, then means “that which has gone beyond,” “that which goes beyond,” or “transcendent.” (Donald S. Lopez Jr.)

Etimologias apontadas, vejamos como paramita figura em textos com tradução portuguesa. Encontramos no livro Conceitos fundamentais do budismo, do Venerável Metre Hsing Yun (publicado no Brasil e em Portugal), um capítulo intitulado OS SEIS PARAMITAS.

O que chama nossa atenção é, imediatamente, o gênero masculino do substantivo paramita. Como esse termo é mais comumente traduzido por perfeição, virtude transcendente, completude, todos substantivos abstratos femininos, o gênero mais apropriado para paramita deveria ser o feminino. Mas essa não é exatamente a opção adotada na maior parte das vezes - tanto em traduções textuais quanto em discursos e falas budistas, mais coloquiais, sobre o assunto.

Vale notar que a segunda etimologia, a que indica movimento no sentido de uma transcendência, talvez tenha raízes que permitam a associação de paramita com uma ideia de gênero masculino ("além da margem"; "o que chegou"; "o que vai"; "o que foi além", que ressoariam mesmo inconscientemente o epíteto do Buda histórico, tatagatha: "aquele que foi"). É fato que essas indicações de movimento poderiam ser associadas ao gênero feminino sem maiores dificuldades ("a que chegou"; "a que vai"), mas esse não parece ser o caso.

Aos meus ouvidos, também, paramitas são os, não as. Entretanto, reconheço que não encontro justificativas linguísticas e etimológicas para embasar essa opção, além da constatação de que, tradicionalmente, essa parece ter sido a solução privilegiada em português.

Referências

Donald S. Lopez, Jr. The Heart Sutra Explained: Indian and Tibetan Commentaries. State Univ of New York,  1988 (aqui: http://goo.gl/Zpxvd)

Venerável Mestre Hsing Yun. Conceitos fundamentais do budismo. Sintra: Zéfiro, 2010.

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